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Fifi, estou contente do teu sucesso, lembro-me, criança, quando todos os meninos de Cruz Jom d’Ebra viam em ti um líder e eu particularmente sabia que serias um grande artista.
Recordo-me das brincadeiras de guerra que organizavas, os shows de música de Roberto Carlos, as escaladas nas colinas, o célebre sketch com Rosinha (lembras-te ainda?). O povo de Cruz muito orgulha de ti, e a tua música nos toca muito. Infelizmente muitos rapazes da tua geração estão perdidos. És um exemplo à seguir, encarrego-me de apresentar-te aos mais jovens para que não te esqueçam".
Tuka de J. Bento

Essas linhas emocionantes são da autoria de um amigo de infância e encontram-se no site de Teofilo Chantre. Elas traduzem toda a música deste cantor, à primeira vista reservado como muitos caboverdeanos, cinzelador de canções que atingem o coração pelo irresistível charme que possuem. Teofilo pacientemente, apaixonadamente, lapidou treze pérolas para este quinto álbum, o mais variado e jubilante, com as suas lânguidas coladeiras, essas biguines africanas que têm um aroma do Brasil, e as suas mornas de uma infinita doçura e a sua acariciante e inconsolável saudade.Elas são interpretadas com uma voz aveludada envolta de arranjos de guitarra, violino, violoncelo, acordeão, piano, percussões discretas, e alguns instrumentos électricos.

Lembro-me que gostava de cantar, inventar melodias. Subia na colina e cantava” diz Teofilo.

Ele fala da sua infância e do início da sua adolescência passadas em Cruz de Jom d’Ebra um bairro do Mindelo na ilha de São Vicente a cidade que revelou ao mundo Cesária Evora, a morna, a saudade, Cabo Verde com a sua dezena de ilhas vulcânicas ao largo do Senegal, antiga possessão portuguesa onde a chuva é escassa.

Nascido em 1963 na ilha de São Nicolau, partiu para São Vicente com a idade de 1 ano, situação que muitos caboverdeanos conhecem num país onde a maioria dos naturais vivem no estrangeiro. O pai de Teofilo Chantre vive em Roterdão a sua mãe em Paris depois dela ter residida algum tempo em Hamburgo.

Tinha quatorze anos quando fui viver com a minha mãe na França. Era uma felecidade de reencontra-la e uma tristeza de ter deixado os meus avôs. A saudade! Com alguns amigos eu falava muito de Cabo Verde, mas em Paris a maior parte do tempo ficava sózinho” diz Teofilo que na época já começava à tocar no seio das diversas associações caboverdeanas, festas da comunidade, e ganha até um prémio num festival de canção lusófona.

Em 1992 Cesária, a Diva ainda aos pés descalços, grava “Miss Perfumado”, um álbum onde Teofilo Chantre assina três canções.”Eu tinha várias canções na gaveta, desde da idade de 16 anos comecei à escrever, nomeadamente “Recordai” que figura em “Miss Perfumado”, a minha aprendizagem do violão à partir dessa idade abriu-me logo os caminhos da composição”. José Da Silva, o produtor de Cesária , e Teofilo Chantre conheciam-se desde 1982. Na época José era percussionista e eles ensaiaram juntos algumas vezes. Teofilo escreverá mais canções para Cesária Evora e José produzirá o seu primeiro álbum “Terra & Cretcheu” em 1993. Este disco vai lançar Teofilo para além da comunidade caboverdeana de França. É a descoberta de um timbre cálido, de um toco fluído de violão e de composições intimistas. O jeito de fazer “abrasileirado” já presente na época, encontra-se também no seu mais recente disco “Viajá”, como se Teofilo inventasse uma bossa-nova caboverdeana, um jazz crioulo leve. É só escutar o sublime dueto na canção “Segunda Geração” com a sua compatriota Mayra Andrade, ela também apaixonada da melodia brasileira. Outros temas como a carinhosa desilusão de “Chelicha”, o fraternal “Apel pa tude Naçon”, o pranto esperançoso de “Tchoro di Guiné”, a partida e a meditação de “Bô Viaja” a decepção amorosa de “Dérobade”, têm a parceria de Vitorino Chantre, o pai de Teofilo, autor que na sua juventude tinha colaborado com Amândio Cabral considerado um dos maiores compositores de morna da sua geração.Vitorino tinha deixado de escrever, o seu filho lhe fará novamente encontrar os caminhos da lírica.”Ele sempre encorajou-me e é uma forma de retribuir o que ele me deu” diz Teofilo.

“Viajá” foi gravado em parte no Mindelo com a cumplicidade do grande Bau um dos melhores músicos caboverdeanos e de Hernani Almeida jovem guitarista e arranjador muito promissor.Pela primeira vez que gravava em Cabo Verde foi numa atmosfera peculiar que Teofilo cantou :”Tomavamos o nosso tempo.Almoçavamos na convivialidade antes de gravar. Havia por vezes algo de mágico, por exemplo a voz que tenho em “Bô Viaja” nunca poderia reproduzi-la em Paris.

 

Teofilo

Teofilo

Teofilo

Teofilo
Fotos Roswitha Guillemin